Epilepsia
Ataque epileptico: manifestação clinica. Prodromo, aura, ictus, pós-ictial, inter-inctial.- Isolado: regressa ao normal.
- Agrupado: > 1 ataque em 24h com recuperação.
- Status epilepticus: convulsões sem recuperação; actividade epileptica continua > 5 min.
- Generalizado: todo o corpo.
- Focal: quando se distrai pára.
- Focal com generalização: inicia-se num ponto e expande-se, sabe-se por anamnese cuidada.
- Familiar / hereditaria: dificil, mutações nos genes que codificam canais - mais excitavel (canalopatia).
- Primaria / idiopatica / funcional
- Secundaria / sintomatica / estrutural: lesão estrutural do cerebro, hipoxia na cirurgia, cicatriz fibrosa (focos epileptogenicos).
- Criptogenica / provavel secundaria
- Reactiva: por toxinas, por falta de metabolização, insuficiencia de orgãos, falta de oxigenação.
Epilepsia: doença cronica caracterizada por multiplos ataques epilepticos.
- Sem alteração no cerebro
- Raças puras (cão), de 1 a 5 anos.
- Convulsão generalizada, tonico-clonicas, inter-ictial normal, frequencia crescente.
- Beagles, Labrador, Golden Retrievers, Pastor Alemão.
- Chavalier King Charles Spaniels tem manifestação "fly biting".
- Diagnostico de exclusão.
- Electroencefalograma (EEG) normal se controlado.
- Lesão estrutural no cerebro.
- PIF
- Esgana canina
Reactiva (3ª)
- Toxicos.
- IR: hiperparatiroidismo (PTH), hiperosmolaridade, HA, acidose, desiquilibrio de neurotransmissores.
- Hepatica: alteração do estado mental, jovens, alteração visual e comportamento.
- Hipernatremia: hemorragia, aumento da excitabilidade.
- Hiponatremia: edema, aumento PIC, alteração excitabilidade.
- Hipoglicemia: encefalopatia (< 45).
Diagnóstico
Suspeita de Epilepsia- Reactiva: sinais não neurológicos.
- Secundária:
- Ataques focais
- Ataques agrupados pela 1ª vez
- Status epilepticus pela 1ª vez
- Idade inferior a 1 ano ou superior a 5 anos
- Sinais neurológicos inter-ictais
- Idiopatica
- Primeiro ataque entre 1 e 5 anos
- + ataques generalizadas
- + frequência crescente
- + inter-ictus normal
- Nunca fazer exame neurológico logo a seguir ao ataque.
- Historia completa: descrição (ou filmagem), nº e frequência, idade do primeiro evento, variação, normalidade após ataque, factores desencadeastes, família, passado medico / cirúrgico, tratamentos preventivos.
- Diagnostico: historia e exclusão de epilepsia não epileptogenica.
- Exame fisico completo: epilepsias reactivas.
- Pressão arterial: hipertensão leva a AVC (foco epileptico).
- Exame oftalmológico: descolamento da retina (hipertensão), processos inflamatórios (único nervo visível).
- Exame neurologico
- Analises sericas basicas (hemograma, glicemia em jejum, proteina total e albumina, FA, GPT, acidos biliares, ionograma, urianalises, ureia e creatinina), urianalise.
Epilepsia secundária suspeita: imagiologia (raio x, ecografia, TAC, RM), liquido cefalorraquidiano (LCR - inflamação, neoplasia).
- Imagiologia (RM, TAC): sinais neurológicos inter-ictiais, ataques focais / focais com generalização, evolução progressiva, cães > 3 anos, todos os gatos, refractários a tratamento.
- LCR (proteinorraquia, celularidade): sinais neurológicos multifocais, convulsões focais ou focais com generalização, lesões detectáveis em imagiologia
Hemograma normal | Hemograma anormal | |
---|---|---|
Neurologico normal | Primeira crise? De 6 meses a 1 ano? - Idiopatica (tratar). Se alterar algo voltar a procurar. > 3 anos: epilepsia secundaria. Gato / progressiva / focal: epilepsia secundaria até prova em contrario. Continuar a investigação, mas se não for possivel tratar. Avisar o dono que pode progredir por ser secundaria. |
Epilepsia secundaria. Investigar para evitar tratamento prolongado com anti-epilepticos. |
Neurologico anormal | Epilepsia secundaria - investigar. | Corrigir e voltar a procurar causa. |
Tratamento
- Actuação rápida com tratamento sintomático. O tratamento não altera significativamente parâmetros escondendo o diagnostico (excepto hepatopatia). Pode alterar parâmetros hepáticos (metabolismo do farmaco) e T4.
- Tratar: lesão intracraniana progressiva, um ou mais episodios de status epilepticus, aumento da frequencia / severidade dos ataques (manter um diario durante longos periodos para registar frequência), período interictal < 4 meses (fenomeno kindling).
- Kindling: certas regiões do cérebro têm tendência de reagir a baixos níveis de estimulação bioelectrica (susceptível a epilepsia).
- Explicar ao dono: natureza do problema, efeitos secundarios e consequencias do tratamento, terapia de longa duração, regularidade de administração, controlos frequentes, objectivos. O sucesso depende da cooperação do proprietário.
- Objectivos: redução do numero e severidade, prolongamentos dos periodos inter-ictiais, redução das complicações pós-ictiais (admite-se que vai ocorrer sempre novo ataque).
- Privilegiar monoterapia: facil administração, barato, seguro e eficaz. Se insucesso em dose maxima associar.
Terapia
Farmaco | Vantagem | Metabolismo | Desvantagem |
---|---|---|---|
Fenobarbital | Seguro, barato, eficaz (60 - 80%). Facil monitorização serica. |
Hepatico. Semi-vida longa (cão 40-90h, gato 40-50h). Absorção oral variável.Atinge concentração estável às 2 sem (10-14d). Monitorizar: 14, 45, 90, 180, 360 dias. Passar a semestral. Monitorizar 2 semanas aós mudar farmaco, ou após 2 ataques entre medições. Se houver ataque rever peso e figado. Tubos simples. Ajustar a niveis sericos e historia. |
Altera resultados - registar na ficha. Cães (raro): sedação (+ tumor cerebral), poliuria, polidipsia, polifagia com aumento de peso, ataxia, hepatotoxicidade. Gatos: prurido facial / generalizado, edema de extermidade, trombocitopenia e leucopenia. Tolerancia (cão): aumentar dose. Alterações laboratoriais: ↓ T4, ↑ TSH (retardado), ↑ FA,,↑ ALT (provavel). Hepatopatias diagnosticar por acido biliares. Hipotiroidismo diagnosticar por sinais e resposta a suplementação |
Brometo de Potássio | Adição ao fenobarbital (reduz dose 50%). Em hepatopatias (eliminação renal). Semi-vida longa (24 dias). |
Adição ao fenobarbital (reduz dose 50%). Em hepatopatias (eliminação renal). Semi-vida longa (24 dias). Administrar com comida (quantidade constante para manter sal). Monitorização: 30, 120d, semestral. Protocolo intensivo (fenobarbital impossivel): dose elevada por 2 a 3 dias e passa a manutenção. Bromo lido como cloro (cloro elevado no ionograma). Tx toxicidade: soro NaCl IV (promove excreção renal). |
Concentração estavel aos 4 meses (80-120d) - não permite ajustar a curto prazo. Cães: rigidez e ataxia (MP), sedação, anorexia, vomido, poliuria, polidipsia, polifagia c/ aumento de peso, hiperactividade, eritema, tosse. Bromotoxicose (dose alta): esturpor / coma, cegueira, ataxia / paresia, disfagia, megaesofago. Proibido em gatos: bronquite asmatica grave em 35 a 42% (tosse, infiltrado pulmonar, fatal), efeito duvidoso. |
Levetiracetam | Com fenobarbital reduz 54% cão, 60% gato. Grande margem de segurança (elevadas doses). Anti-kindling. Excreção renal (70-90%). Neuro-protector. |
Duplicar dose se não há resultado à 1ª semana. Concentração serica não relacionada com eficácia, monitorização clinica. Status epilepticus: IV lento. |
Semi-vida curta (4h cão, 8h gato) mas efeito persiste. Parece mais eficaz no inicio. |
Zonisamida | Anti-oxidante, facilita neurotransmissão. Semi-vida longa (15h cão, 33h gato). |
Monoterapia ou com fenobarbital. Atinge valor serico em 1 semana. Monitorizar: 1 semana. Metabolização hepatica. |
Semi-vida encurtada por farmacos indutores de enzimas lisossomais hepaticas (fenobarbital): duplicar dose. Cão: raro. Gato: anorexia, diarreia, vomitos, sedação, ataxia. |
Imepitoína | Epilepsia idiopatica em cães. 3ª escolha. |
Monitorização sintomatica em dias. Metabolização hepatica. Semi-vida curta, efeito duradouro. |
Sem efeito na epilepsia secundária. Falta de testes: ep. secundaria / reactiva, ataques agrupados, status epilepticus, < 5 kg. Ataxia, polifagia, poliuria, polidipsia, hiperactividade, vomito, diarreia. |
Gabapentina | Adicionado a fenobarbital (reduz dose). Sem interacção. Em dor neuropatica. |
Monitorização clinica (raro valor serico). Excreção renal + 30 a 40% met. hepatico (s/ indução de enzimas). |
Semi-vida curta (3-4h): TID ou QID. Caro. Falta de informação em gatos. Cão (raro): sedação, ataxia pelvica. |
Felbamato | Monoterapia (eleição para obnubilado), com felbamato. Protecção hipoxia e isquemia neuronal. Sem sedação. |
Excreção renal 70% + metabolização hepatica. Semi-vida 5-6h: TID. Monitorização clinica. Avaliação hepatica semestral (+++ se fenobarbital). |
Restrições de venda (hipersensibilidade em humanos). Não estudado em gatos. Cães (infrequente): disfunção hepatica (?). Contra-indicado em hepatopatias. Aumento do fenobarbital serico. |
- Injectavel: benzodiazepinas, propofol, pentobarbital.
- Comprimidos: fenobarbital, brometo de potassio, levetiracetam, zonizamida, imepitoína, gabapentina, felbamato.
Inapropriados
- Tóxicos: fenitoína, carbamazepina, ácido valproico, etosuximida.
- Farmacocinética inapropriada: vigabantina, lamotrigina, oxcabazepina, tiagabina, topiramato.
Convulsões agrupadas e Status epilepticus
Em casa: diazepam per rectum 3x a cada 20 minutos.Na clinica:
- 1º Cateterizar e recolher amostras
- Hematologia, bioquimica, dosear anticonvulsivante - diazepam pode alterar valores.
- 2º Parar fenomeno
- Diazepam + Fenobarbital: diazepam tem efeito rapido até 20 minutos, fenobarbital começa a actuar aos 20 minutos. IV lento.
- Eficaz: fenobarbital IM ou PO.
- Ineficaz mas menos frequente: diazepam a cada 2 min (4x).
- Ineficaz igual: infusão constante de diazepam com reduçõe de 50% cada 6h (2x). Solutos de calcio precipitam diazepam e sensivel à luz (cuidado).
- Infusão ineficaz: anestesia geral (entubar, almofadar piso, monitorizar, mudar posição), propofol (por 6h, pára manifestação) ou pentobarbital (por 4h, mais toxico) em infusão continua. Monitorização constante.
- 3º Proteger cerebro.
- Manter via aerea patente, tiamina (processamento de glicose SNC), flicose, NaCl 0.9% e KCl de manutenção (incapaz de comer ou beber), combater hipertermia.
- Procurar diagnostico e terapia etiologica.
- 4º Recuperação
Tumores cerebrais
- Epilepsia secundaria
- No cerebro clinicamente todos os tumores são malignos: compressão, interrompem liquido cefalorraquidiano (hidrocefalia secundária) e fluxo vascular (isquemia compressiva), invadem, quebram BHE.
- Primarios do cerebro, meninges, tumores osseos.
Cão
- Glioma (astrocitoma, oligodendroglioma) mais frequente.
- Metastização distante raro (algum meningiomas).
- Secundário (adenocarcinoma nasal, hemangiossarcoma, carcinoma hipofisario).
- Metastasico: carcinoma mamario, prostatico, TVT.
- Braquicefalicos: gliomas e hipofisarios.
- Dolicocefalicos: meningiomas.
Gato
- Meningiomas secundarios (linfoma, carcinoma hipofisario, tumor de ouvido medio, adenocarcinoma nasal, osteossarcoma).
Historia crónica de sinais subtis: sinais de disfunção cerebral. Epilepsia focal, circling sem cair e marcha errante (muito sugestivo de lesão intracraneano, se cronico suspeitar de tumor).
- Tronco cerebral: defices de pares cranianos, surdez.
- Cegueira central: vias visuais ou cortex occipital.
Diagnóstico
- Historia: evolução, sinais subtis, sinais sistemicos.
- Sinais: sistémicos, auscultação cardíaca, pressão arterial, disfunção sistémica (febre, icterícia, diarreia), exame oftalmológico (uveite, coriorretinite).
- Analitica dirigida: patología sistemica, painel anestesico.
- Raio X craniano: raramente util, osteossarcomas, tumores nasais ou de ouvido.
- Analise de LCR: ausencia de celulas não descarta tumor (muitos não descamam). Pode haver aumento PIC pela massa,ao fazer punção descomprime e faz herniação tentorial e entra em coma (preferivel TAC primeiro). Eliminar encefalite, raramente especifico.
- Imagiologia avançada
- TAC: alterações ósseas, cavidades, contrastes mais barato, biopsia guiada por TAC.
- RM: edema, lesões quisticas, alterações vasculares, hemorragia, necrose.
- Diagnóstico ante-mortem: biópsia guiada por TAC / RM.
Tratamento
- Remoção cirúrgica
- Tumores superficiais (meningiomas em gatos): craniotomia local.
- Citoredução (pré-radioterapia)
- Radioterapia
- Tumor profundo: radioterapia.
- Dose total de 45 Gy em 15 frações – 3 semanas, superfracionamento difícil por exigir AG.
- Quimioterapia
- Não ultrapassa BHE, só injectado no tumor (intra-operatorio).
- Citosina-arabinósido, lomustina, carmustina, temozolamida.
- Outros: imunoterapia, terapia genética
Hernias Discais / Discopatia Degenerativa
Degeneração fibroide: perde água e proteoglicanos, aumenta proteínas não colagens.Degeneração condroide: metamorfose condroide precoce, aumento do colagenio, perda de GAGs, calcificação subsequente. Em raças condrodistroficas.
- Condrodistroficos (pequines, teckel, caniche, cocker, beagle), 3 a 6 anos.
- Crónica ou aguda.
- Não condrodistroficos, raças grandes, > 5 anos.
- Crónica progressiva.
Incidencia
- Raro em gatos (subclinico)
- Maioria 3 a 7 anos.
- Região toraco-lombar e cervical.
- Raro entre T2 e T10 (ligamento inter-capital).
Sinais
Cervical- Dor local, ataxia / tetraparesia MNS
- Espasmos musculares cervicais
- Marcha com cabeça baixa
- Relutancia à manipulação
- Hansen I: dor cervical aguda, marcha cabeça baixa, rigidez do pescoço, assinatura de raiz do MT.
- Raças pequenas: + cranial.
- Raças maiores: + caudal.
- Hansen II: dor cervical menos intensa, paresia progressiva.
Toraco-lombar
- Dor local: cifose
- Ataxia / paraparesia / paraplegia MNS
- Relutancia à manipulação.
- Maioria T11 - L3:
- R.pequenas: T12-T13, T13-L1.
- R. maiores: L1-L2, L2-L3.
- Raro cranial a T10 (lig. inter-capital).
- Hansen I: paresia / paraplegia aguda.
- Hansen II: paraparesia progressiva.
- Ataxia / paraparesia / plegia MNI
- Paralisia da cauda MNI
- Atonia anal / perineal
- Incontinencia urinaria e fecal.
- Maioria Hansen II.
- Complexo de patologias: hernia, subluxação lombo-sagrada, hipertrofia do ligamento flavo L7-S1, hipertrofia dos tecidos moles e osteofitose.
- Dor lombosagrada, claudicação, deficiencia postural, sinais MNI do MP.
Patologia medular
Severidade: depende da duração, grau, velocidade e compromisso vascular.- Agudo: semelhante a trauma medular agudo (risco de mielomalacia ascendente-descendente).
- Cronico: desmielinização, degenerescência, malacia, aderências meninges (atrofia medular).
Diagnostico
Radiologia simples- Calcificação discal (não equivale a herniado).
- Diminuição do espaço intervertebral.
- Forma anormal do espaço IV (em cunha).
- Presença de material calcificado no canal medular.
- Alteração do tamanho / forma do foramen intervertebral.
- Diminuição do espaço entre apófises articulares.
- Padrões de compressão extradural: ventral, ventro-lateral, lateral.
- Alargamento das colunas na projecção VD (compressão ventral).
- Padrão intramedular nas extrusões agudas com edema e hemorragia.
Tratamento
Conservativo- Primeiro episódio de dor simples ou ataxia / paresia leve, restrições financeiras.
- Repouso em jaula: 4 a 6 semanas, independente da velocidade de recuperação (curtos passeios para necessidades).
- Anti-inflamatorios (dose baixa), analgesicos, relaxantes musculares, protectores GI.
- Agravamento / persistência com tratamento conservatico, recorrência ou progressão de sinais, paraplégica com sensibilidade (profunda), paraplégica com anestesia caudal há menos de 48h.
- Cervical: fenestração ventral.
- Toraco-lombar: hemilaminectomia.
- Lombo-sagrada: laminectomia.
Pós-operatorio
- Ambiente limpo e seco (disfunção de esfincteres, ITU).
- Cama almofadada (ulceras de decubito).
- Alternancia frequente de decubito.
- Expressão manual da bexiga / cateterização intermitente TID.
- Acesso facilitado a água e comida / alimentação manual.
- Benefico:
- Frio na incisão.
- Terapia física de reabilitação.
Prognostico
- Mielomalacia ascendente-descendente: fatal.
- Cervicais melhor que toraco-lombares.
- Paraplegia tem melhores resultados com cirurgia.
Função | Lesão | Prognóstico |
---|---|---|
Propriocepção | Defices posturais | Favorável |
Motricidade voluntária | Paresia Plegia |
Reservado |
Dor superficial | Hipoalgesia superficial | Reservado |
Dor profunda | Hipoalgesia profunda | Grave |
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