T I: Investigar a Função Reprodutiva do Cão

Indicações

• Certificação da fertilidade potencial
• IA
• Refrigerar / Congelar sémen
• Investigar possíveis causas de subfertilidade/infertilidade

Criterios

• Estado de saúde geral e reprodutiva
• Fenotipo
• Capacidade de cópula
• Capacidade fertilizante

Protocolo

Identificação

• Nome, data de nascimento, microchip/tatoo, raça - registo, exames de pre-compra e interpretação.

Historia Reprodutiva 

• Motivo de avaliação? 
• Utilização para cobrição anterior? Ninhada? Como foi a ultima cobrição e ninhada? 
• Frequencia de utilização? Subutilização, sobreutilização (descanso de 5 dias). 
• Patologias? Antecedentes familiares de infertilidade? Patologias hereditarias? 
• Farmacos nos últimos 2 meses? Farmacos (ex. anabolizantes) interferem com o ciclo espermatico. Saber quando iniciou e terminou e esperar 1 ciclo (62 dias, ~ 2 meses). 
• Ambiente? Cão com muitas fêmeas em cio pode ter mais problemas prostaticos.

Exame Geral 

• Condição física / peso corporal: deposição de gordura no escroto interfere com a termoregulação e espermatogenese. Choque térmico do testículo tem anomalia espermatica. 
• Sinais de doenças endocrinas ou congénitas.

Exame do Aparelho Reprodutor 

• Escroto: sem aderências (termorregulação), frequentemente o esquerdo é mais caudal que o direito.
• Testiculos: forma oval, consistencia (normal = "ovo cozido", mais mole é degenerescencia e recupera, mais duro é fibrose, não recupera, perdeu parenquima) e tamanho, simetria (confirmar 2). Aumento do tamanho: orquite, torção (ultima com dor e calor). 
• Criptorquidismo 
• Unilateral: pode ser fértil mas não deve reproduzir (hereditário). 
• Bilateral: remover (possível sertolinoma ou seminoma), infertil. 
• Diagnostico: palpação, ecografia, hormonal (testosterona e LH são produzidas). 
• Ás 8 semanas deve ter testículos escrotais. Aos 6 meses o canal fecha. Não há tratamento, há referencia da utilização de hCG (IM) antes das 16 semanas, mas é uma cedo e ainda pode descer. Orquiectomia.

• Epididimos: consistência ligeiramente mais dura que testículo. Cauda, cabeça, corpo difícil de palpar. "Belisco" para palpação da cabeça, que é mais pequena e aderida na parte cranial.

• Prepucio e Pénis: corrimento normal, não deve ser hemorrágico e abundante. Retrair pénis até glande. Preferivel durante a recolha de para não manipular antes o cão. 
• Sangue, pús, exsudados, trauma, tumor. 
• Parafimose: exterioriza-se o pénis mas prepucio não se faz recolha. 
• Fimose: não exterioriza pénis. 
• Fractura (os pénis): não permite manipulação, dor. 
• Estreitura. 
• Priapismo: o pénis erecto não retorna ao estado flácido (> 4h), pode ser não isquemico ou isquemico (o ultimo é emergência).

• Prostata: tamanho, consistência, simetria, dor, lóbulos homogéneos. Avaliação após recolha, se houver anomalia faz-se diagnósticos diferenciais. Mais de 5 anos pode ter problemas prostaticos que afectam a fertilidade.

Exame da Função Reprodutiva 

• Estimulação: cadela em cio (aumenta concentração, pode não gostar), zaragatoa de citologia vaginal de cadela em cio, Eau d'estrus, PGF 1a 15 minutos antes (0,1 mg/kg) para ter certeza que recolhem (estimula contracções, aumenta concentração).

Recolha do ejaculado 

• Material de vidro lavavel é desaconselhado porque pode lesionar o pénis se partir (grande hemorragia), a água e detergentes são espermicidas (artefactos). Utiliza-se cones de recolha descartaveis. 
• Ejaculado tem três fracções: 
• 1º prostatica - translúcida, pode não ocorrer. 
• 2º epididimaria - turva/ branca, com espermatozoides, 
• 3º prostatica - translucida, mais volumosa (até 30 mL), pode parar-se a recolha. 
• O fluido prostatico no cão serve para lavar a vagina e uretra peniana, a sua recolha pode ser útil de forma a diluir a fracção epididimaria e aumentar o seu volume para facilitar a manipulação ou recolhida (3ª) para citologia quando há suspeita de patologia prostatica (células inflamatórias, sangue). O volume total de ejaculado não tem grande interesse pois grande parte é fluido prostatico. O fluido prostatico é deletério para a conservação do sémen (refrigerado/congelado) porque diminui a motilidade. 
• Recolhe-se a 1º e 2º fracção. A 2º inicia-se quando se vê "nuvens" no tubo. A 3º pode ser descartada. Deve vigiar-se o cão até retrair o pénis visto que é facil causar lesão e deve retirar-se o estimulo.

Avaliação do Sémen

• Cor 
• Ordem crescente de concentração de células: transparente, coalho, leite, marfim. No entanto as células podem não ser espermatozoides (ex. células inflamatórias). 
• Rosa: sangue (trauma, próstata). Pode se usar se não for infecção. Usa-se diluidor com AB e centrifugação. 
• Amarelo: urina, não lesa espermatozoides e pode usar-se para inseminar (ocorre na monta natural, interessa apenas que não tenha infecção). 
• Esverdeado: pús. 
• Infecção: não se deve usar, altera o pH, diminui motilidade e numero de espermatozoides (por dor). 
• O sémen refrigerado não altera muito os parâmetros. 

• Volume: aferido no tubo graduado. Serve para saber o nº total de espermatozoides ejaculados.

	Bom	Descrição
Motilidade	>80%	Gota de semén em lamina aquecida e observação imediata. Há espermatozoides? % de moveis?
Morfologia	70-80%	Diff-Quick do esfregaço (2 minutos em cada) ou Eosina-Nigrosina (gota sémen + gota corante).
Concentração	390 x 10^6	Em câmara de Neubauer com diluição em formol salino (1:100) e repetir se houver a mais ou a menos. Leitor óptico dá a concentração, mas não pode ser usado em sémen com diluente ou muito baixa concentração.

• Classificação 
• Reprodutor potencial satisfatório: cumpre todos os critérios. 
• Reprodutor não satisfatório: eliminado permanentemente de reprodução (ex. criptorquidio, fibrose). 
• Classificação adiada: quando há interferência no ciclo e pode recuperar (esperar 62 dias) ou quando é sobreutilizado (descanso 5 dias).

Exames Complementares

• Ecografia: prostata, testiculos e epididimos. 
• Cultura: se há suspeita de infecção (Diff-Quick).
• ALKP (fosfatase alcalina): quando o ejaculado é transparente pode ter ejaculado epididimario sem espermatozoides ou não ter ejaculado epididimario. Para avaliar doseia-se a ALKP no sémen, que está presente em elevadas concentrações na fracção epididimaria (40.000) e mais baixo no sangue (5.000). As maquinas normalmente lêem até 5.000, por isso faz-se diluição e depois calcula-se o total. Se não há espermatozoides e o ALP é alto, é mau prognostico porque está presente fluido epididimario (não produz espermatozoides). Se o sémen não tem espermatozoides e a ALP é baixa (< 5.000) pode ter bloqueio ou o cão tem dor ou medo de ejacular. O bloqueio pode ser deferente (impede saída), faz-se CAAF da cauda do epididimo, e colocação em soro e esfregaço, se tiver espermatozoides é bloqueio. O bloqueio proximal à cauda é raro, faz-se biopsia (não serve para maturação in vitro no cão). 

Patologias Reprodutivas do Macho

• Hipoplasia testicular: azoospermia, oligospermia (baixo nº), FSH está aumentada (dosear espécie especifica). 
• Hipogonadismo hipogonadotrófico: disfunção da hipofise (congenita ou adquirida - trauma/neoplasia). Todas as células testiculares presentes mas FSH e LH baixas. 
• Sindrome da maratona: em cães de trabalho, GnRH é baixa, baixa a testosterona, altera parametros, recomenda-se descanso. 
• Administração de testosterona exógena: feedback negativo. 
• Atrofia Senil: em cães de idade, testículos pequenos e duros. 
• Orquite imunomediada: biopsia tentacular com infiltração linfocitaria, hereditária. 
• Neoplasia testicular: neoplasia unilateral tem efeito inibitório bilateral. 
• Ejaculação retrogada: raças toy, por incapacidade do esfíncter, o sémen vai para a bexiga e encontram-se espermatozoides na urianalise (cistocentese). Pode retirar-se o ejaculado da bexiga, lavar e inseminar. Tratamento por simpaticomimeticos que fecham o esfincter (fenilpropanolamina / pseudoefedrina).