Estratégias de alimentação de vacas leiteiras
Não basta formular o regime alimentar correctamente, como fornecemos o alimento também influencia.A forragem é a base da alimentação, mas não é o único alimento:
é nutricialmente desiquilibrado (ex. desiquilibrio entre MCPfme e MCPerdp)
natureza fibrosa limita a ingestão voluntária
para cobrir as necessidade precisava de ingerir valores acima da ingestão voluntária (fornecer concentrado, mas o minimo possível porque é caro e pode ser utilizado em monogástricos).
Alimentação Tradicional
- Forragem na mangedoura, ad libitum (há refugo, sabe-se que ingeriram o máximo).
- Concentrado distribuido na sala de ordenha, individualmente e em função da produção de leite.
- Fabricas de alimento composto recomendavam quantidade por litro de leite.
A produção e necessidades aumentaram, logo aumentou muito a quantidade de concentrado que devia ser ingerida na ordenha (demorava muito: ou se prolonga o tempo de ordenha ou o animal saia sem comer tudo). Na ordenha não se deve perder tempo a alimentar (leva ao aumento da mão-de-obra). A sala de ordenha deve estar limpa, o alimento concentrado tem poeira que contamina o leite (aumento da carga microbiana).
Ao comer quando é ordenhado, vai levar a elevada produção de ácidos gordos voláteis (acidose) e a um pico de NH3 (muita proteina rapidamente degradável), o que leva à diminuição da ingestão voluntária de forragem. Há assincronismo de fornecimento de nutrientes ao animal e aos microrganismos.
Uma solução é dar menos concentrado na ordenha e às 12 horas dar um pouco na mangedoura. Permite subir o pH médio do rúmen, logo aumentar a ingestão de forragem e a produção (até podemos reduzir um pouco a quantidade de concentrado).
Outra solução é utilizar colares electrónicos, em que a vaca entra na box e o chip é lido. O produtor estabelece o valor de alimento pelo tempo (ex. 2kg a cada 2h). Vantagens: retira o alimento da sala de ordenha, distribui o concentrado ao longo do dia (melhora o pH e a ingestão), o computador avisa quando um animal não come tudo num dia (identificar problemas), pode ajustar-se diariamente. Desvantagem: é caro.
Flat-rate feeding
Em toda a lactação fornecemos a mesma quantidade de concentrado (vantagem).
O peso vivo cai muito na primeira fase de lactação e há excesso de condição corporal no parto (desvantagem).
Bom para explorações com intervalos entre partos curtos.
Stepped flat-rate feeding
Minimiza os problemas, evita sub e sobrealimentação. É facil de implementar. Na primeira fase, há mais necessidades, dá-se mais (ex.10kg). Na segunda fase, as necessidades são menores, dá-se menos (ex.6kg).
Alimento Completo
- Utilizando uma maquina unifeed, mistura-se a forragem com concentrado e dá-se ad libitum.
- Cada vez que o animal come, come uma dieta balanceada. Chegam os nutrientes em simultâneo ao rúmen - é mais estável (sem picos de amoniaco, AGVs, CO2), favorece o aumento dos microrganismos, logo reduz o tempo de passagem e aumenta a proteina microbiana (aumenta a produção). Há menor risco de acidose. Diminui a proteina bruta na dieta, o que é favorável por tornar a dieta mais barata e menos poluente.
- Ao aumentarmos a ingestão voluntária, permite-nos trabalhar com dietas de concentração energética mais baixa (com mais forragem), diminuindo o custo, sendo mais seguro para o reticulo-rumen e podendo aumentar a produção.
- Muito utilizada nas explorações leiteiras.
- Podemos aplicar esta estrategia de várias formas ou misto.
- A todas as vacas fornecemos o mesmo alimento completo. Como temos animais em diferentes situações de lactação, sobrealimentamos e subanimentamos (engorda e emagrecimento). É facil de aplicar, mas não é muito utilizada. Resultados razoáveis em explorações com boa fertilidade (menos tempo para engordar).
- Solução intermedia: Dividimos os animais por lotes consoante a produção. Obriga o produtor a fazer mais misturas e a ter mais silos.
- Quando mudamos os animais entre lotes há uma quebra de produção não justificada pela diminuição da concentração energética. Deve-se à adaptação do animal à hierarquia (dominantes não deixam o animal alimentar-se), portanto devemos mudar grupos de animais e não animais sozinhos.
- Tem melhores resultados, porque aumenta a ingestão voluntária e a produção. Mas a escolha não depende só da melhor estratégia, tem que ter em conta as condições da exploração. Neste caso é bom para grandes explorações, quando temos só 100 vacas só faz sentido fazer 2 lotes.
- Explorações no Norte de Portugal: Misto
dimensão relativamente pequena, não faz sentido dividir por lotes, só há um parque com um dieta (unifeed). Para evitar problemas, complementa-se com concentrado em função da produção de leite (suplemento para a produção superior a 28kg de leite) com box.
Composição do leite e alimentação
- Macronutrientes: teor em gordura e proteina
- Lactose varia pouco.
- Manipulação para a produção de nutrientes específicos.
- Valorização do leite por produção de produtos transformados com valor acrescentado (ex. queijo, iogurtes).
Transformação de leite em productos lacteos
- Teor em proteina e gordura influencia o rendimento de conversão.
Ex. Queijo - é importante a proteina (quanto maior teor no leite, menos litros são necessários). Manteiga -gordura. - Alteração da composição de leite por via genética (ex. proteina)
- Tipos de substratos ingeridos e utilização.
Leite com elevado teor em gordura
- Manipulável através da dieta (fácil): aumento dos percursores (ácido acético e butirico).
- Aumentamos as fontes de fibra e fibra com estrutura fisica, o que aumenta o ácido ácetico e os percursores de gordura do leite.
- Manter o pH do rúmen neutro promovendo a ruminação por utilização de fontes com estrutura física e substâncias tampão ou neutralizantes (bicarbonato de sódio ou óxido de magnésio).
- Substituir hidratos de carbono não estruturais (amido e açucares) por alimentos ricos em energia metabolizável (ex. polpa de citrinos, polpa de beterraba).
- A produção de leite tende a diminuir (diminui a produção do percursor da lactose, os alimentos fibrosos levam ao aumento do tempo de retenção, diminui a ingestão e produção).
- Os produtores não estão muito interessados.
- Há relação exponencial entre a gordura e pH do rúmen e o NDF estrutural: aumenta a ruminação, aumenta a saliva, aumenta substâncias tampão. Há um minimo de NDF estrutural para produzir 3,5% de gordura.
Teor de Proteina
- Em parte depende da dieta, mas há um limite genético.
- Melhoramento da genética por utilização de sémen melhorador para a proteina.
- Na maior parte dos casos, as vacas produzem proteina a baixo do seu potêncial genético por serem mal alimentadas.
- Devemos aumentar a ingestão de energia metabolizavel potencialmente fermentável (sem gordura). Leva a um aumento do MCP, logo da absorção de aminoácidos. A proteina microbiana é o perfil mais próximo da caseína, por isso devemos favorece-la.
- O substrato fornecido deve ter elevados niveis de amido, que produz C3, percursor de lactose. Quando está em falta, o organismo utiliza aminoácidos para a produção de glucose e lactose por neoglucogénese. Ao adicionar amido garantimos que os aminoácidos apenas são utilizados na produção de proteina. Mas não podemos utilizar qualquer fonte de amido, queremos amidos resistentes à fermentação no rúmen, como o milho (20-30% chega ao intestino).
- Ex. Em Portugal passou substituiu-se a silagem de milho por silagem de erva, perdeu-se o amido, logo baixou a produção de proteina.
- Podemos aumentar o DUP incluindo uma fonte de proteina com baixa degradabilidade no rúmen (farinhas de origem animal (não é legal), bagaço de soja, algodão, ou por tratamento termico). Importante porque não conseguimos aumentar indefinidamente o fluxo de proteína microbiana. Quanto mais DUP, mais diminui o valor biológico.
- A maior parte dos problemas não são relativos à PM total, mas com niveis especificos de aminoácidos essenciais. A proteina microbiana e a caseína (proteina do leite) têm composição de aminoácidos próxima com excepção da lisina e metionina. Como não podemos dar farinhas de origem animais para complementar este défice através do DUP, suplementamos com aminoácidos de sintese (protegidos, para passarem pelo rúmen sem serem destruídos).
- Aumentar fornecimento de proteina metabolizável (mas tem o problema de produzir muita ureia e alterar o metabolismo do fígado).
Estudo sobre a proteina na dieta e produção de leite
- Dietas com maior teor em proteina promoveram a ingestão voluntária e produção de leite por favorecer os microrganismos. Por outro lado levaram à produção de maiores quantidades de ureia.
- Subprodutos do milho favoreceram a ingestão voluntária e produção de leite por terem mais ERDP que o bagaço de soja.
- Adição de aminoácidos especificos não teve efeitos significantes na ingestão voluntária e produção. Mas favoreceu a produção de gordura (metionina fornece metil para a sintese de ácidos gordos) e aumentaram o teor de proteina no leite.
- Teor da proteina da dieta não afecta o teor em proteina no leite.
- Dietas com bagaço de soja produziram leite com maior valor proteico (DUP).
- Pode ter menos teor em gordura por esta se diluir quando a produção aumenta.
- Dietas com menor teor em proteína têm melhores eficiencias de conversão (maximiza), menos azoto é excretado (favorece o ambiente), diminui o custo de produção (poluir tem um custo). Maximizar a produção não significa trabalhar para eficiências máximas.
- A redução do teor em PB da dieta diminuiu a ingestão de MS, a produção de leite, mas aumentou a eficiência de conversão do N-ingerido em N-leite;
- Os subprodutos do milho como a principal fonte proteica do alimento concentrado promoveram um aumento da IMS e da produção de leite, mas diminuíram os teores em proteína e em gordura do leite;
Sistema Britanico
EM - necessidades em energia metabolizavel (MJ/dia). EM= EB - (Efezes + Eurina)PM - necessidades em proteina metabolizável (g AA/dia). Nos ruminantes, a proteina tem origem na proteina microbiana e proteina da dieta não degradada no rúmen.
q- concentração/densidade energética (MJ/kg MS) q= EM / EB (gordura e cinza é o que fazem EB variar)
Fluxo de proteina microbiana
MCP - proteina bruta microbiana (g/dia). MCP = f(energia fermentável), MCP =f(azoto degradável).FME - energia metabolizável potencialmente fermentável (MJ/dia). FME=EM-(EMgordura +EMprodutos de fermentação). Corresponde às celuloses, hemiceluloses, amido e proteina. A gordura e produtos de fermentação fornecem energia ao animal.
EMpf consideramos que é 10% do EM do alimento, visto que é caro analisar. Na silagem de milho é 10%, nos grãos de destilaria é 5%, nos restantes alimentos 0%.
MCPfme=y . FME
y - eficiencia (g MCP / MJ FME), varia com a taxa de passagem, R, e é influenciado pela ingestão (maior ingestão, maior taxa de passagem). Para vacas em lactação, R=0,08 h-1, y=11 g MCP/ M FME. Assumimos que a taxa de passagem é constante em todo o dia (não é verdade, há horas em que come mais). A taxa de passagem é inversamente proporcional ao tempo de retenção (ex. taxa de retenção de 48 horas, taxa de passagem é 1/48 = 0,02 h-1). Na vaca leiteira, a retenção é de 12 horas. O fluxo de proteina microbiana para o duodeno aumenta com o aumento da taxa de passagem.
L - nivel de ingestão. L=1 é manutenção, ingestão e necessidades são iguais. L=2, ingere 2 vezes o necessário para a manutenção. L=0,8 está em balanço energético negativo. L=EMing/EMnec.
Azoto
Estimamos a quantidade de azoto degradável numa dieta ou alimento (ex. in saco, in vitro, enzimas).
a - fracção da PB ou azoto que é sóluvel (imediatamente utilizado pelos microrganismos).
b - fracção de proteina degradável não soluvel.
a + b - fracção de proteina potencialmente degradável.
c - taxa de degradação de b (h-1).
a + (b . c) / (c + r) - degradabilidade efectiva
QDP - fracção de proteina rapidamente degradável. QDP = a . PB
SDP - fracção de proteina bruta lentamente degradável no rumen. SDP = PB. (b . c)/(c + r)
UDP - proteina não degradável no rúmen. UDP = PB - (QDP + SDP)
ERDP - fracção da proteina efectivamente degradada no rumen. ERDP = 0,8 QDP + SDP
Eficiencia do QDP - quando há picos é absorvido e excretado, a eficiencia de conversão é 80%.
Eficiencia do SDP - assume-se 100% porque há ureia reciclada atravez da saliva.
MCPerdp = ERDP (g/dia)
DMTP - proteina microbiana verdadeira digestivel (g/dia). DMTP = 0,75 . 0,8 . MCP
DUP - proteina não degradável no rúmen (g/dia). DUP = dig . UDPCorrigir assincronismo entre picos de NH3 e AGV’s: suplementar com fontes de energia rapidamente fermentável (melaço, polpa de citrinos).
Converter NH3 em ureia gasta energia, logo piora o desempenho dos animais.
Reciclagem de ureia pela saliva é maior quando há menos NH3 no rumen e nos periodos de maior ruminação.
Acidose - defice em alimento com estrutura física ou excesso de açucar e amido.
Idealmente MCP deve ser igual em azoto disponivel e em energia fementável.
MCPfme < MCPerdp - crescimento microbiano limitado pela energia fermentável, intoxicação por amoniaco, poluíção ambiental, conversão em ureia consome ATP, diminui fertilidade, economicamente desfavorável.
MCPfme > MCPerdp -limitado pelo azoto. Há menos microrganismos, maior tempo de passagem, menos ingestão voluntária, menor produção.
Vantagem: relaciona FME e ERDP, considera influência da taxa de passagem na eficiência de sintese de MCP, permite incluir informação futura.
Limitação: valores de ERDP in saco, QDP eficiencia 80%, factores complexos que influenciam MCP, DUP assume que ADIN é completamente indisgestivel, RV da proteina metabolizável é variavel.
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